Somos um movimento de organizações da sociedade que a partir da identificação, sistematização e mapeamento de experiências procura se articular no estado com o objetivo de fortalecer as iniciativas agroecológicas
Legalmente, não há morador em Zona Rural, na cidade do Rio, de acordo com os dados do IBGE. Mas não é “por milagre” que brotam das terras da Zona Oeste aipim, milho, banana e caqui, entre tantos outros produtos. Eles surgem de lavouras mecanizadas ou mesmo pelo trabalho braçal, quase arcaico, de agricultores como Luis Carlos Santana, de 62 anos.
Diariamente, Luis sobe e desce o Caminho da Virgem Maria, no Rio da Prata, Campo Grande. Em seus burros, jacás abarrotados:
— Produzo e vendo milho, caqui, abacate, aipim. O carro-chefe é a banana.
A região é a última fronteira agrícola da cidade. Empurrada para o Oeste pela expansão urbana, que ocorreu, principalmente, na década de 60
— Antes o cinturão agrícola chegava onde hoje funciona o Ceasa, em Irajá. Agora a produção vem de cidades do interior e parte da Zona Oeste — explica Roberto Marques Pinto, engenheiro agrônomo do Núcleo de Informação e Documentação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do estado (Emater).
De acordo com dados da empresa, o município do Rio foi responsável por uma produção, em 2010, de 55,5 mil toneladas de vegetais. Quase metade é de aipim, mas também se produz chuchu e coco verde.
O novo cenário da cooperativa
Se hoje Luis sobe e desce a montanha de Rio da Prata sem fazer manha, houve uma época em que faltava motivação. Com o preço dos produtos em queda livre, e sem condições de competir com a agricultura intensiva, os produtores familiares como ele, abandonaram os cultivos. O cenário só mudou depois que os produtores se reuniram em uma cooperativa.
— Quando o preço ficou baixo eu fui tentar a vida lá fora. Mas com a associação, voltei — comenta Luis.
A Associação de Produtores Orgânicos da Pedra Branca e Rio da Prata (Agroprata) tem papel preponderante nesta retomada do campo, como explica a diretora-executiva Rita Caseiro:
— O trabalho com os produtores é para agregar valor ao produto. Além de conseguirmos a certificação de produção orgânica, sem agrotóxicos, também criamos novos produtos.
Hoje, além dos alimentos orgânicos, são comercializados em toda a cidade a banana passa e produtos inovadores, como o vinagre de caqui. Com o diferencial da produção orgânica, o preço do quilo da banana chega a R$ 5, contra os R$ 2 do cultivo tradicional.
O campo atrai o homem da cidade
A nova perspectiva no campo não atrai apenas quem deixou a terra. O metalúrgico aposentado Mario Ribeiro, de 53 anos, já trabalha para tornar o sítio comprado em 2004 em lavoura orgânica:
— Tenho abacate, banana e caqui, mas não tenho certificação. Com o preço mais alto, vou ampliar o cultivo.
O mercado está aquecido. Embora a prefeitura não tenha uma secretaria de agricultura, os assuntos da pasta relativos à produção familiar estão inseridos em Desenvolvimento Econômico Solidário.
De acordo com o setor, o circuito de feiras orgânicas será ampliado de seis para 12 feiras. Além da Zona Sul, serão melhor cobertas as zonas Norte e Oeste.