Somos um movimento de organizações da sociedade que a partir da identificação, sistematização e mapeamento de experiências procura se articular no estado com o objetivo de fortalecer as iniciativas agroecológicas
Entre a serra e o mar de Paraty, na Costa Verde, cerca de 400 pessoas foram acolhidas pelos tambores do Quilombo do Campinho, que anunciaram: começou o IV Encontro Estadual de Agroecologia do Rio de Janeiro!
Vindas de todas as regiões do estado, jovens, agricultoras e agricultores, indígenas, quilombolas, representantes de movimentos sociais, universidades, instituições públicas, organizações e coletivos receberam as boas-vindas em uma mesa de abertura que representou a diversidade e a potência da construção agroecológica do Rio de Janeiro.
O almoço, servido com o sabor dos alimentos livres de veneno dos produtos da rede agroecológica, foi seguido de rodas de diálogo. A troca de conhecimentos ratificou o compromisso da agroecologia com a construção de uma alternativa real, fundada em outra relação com a terra e com a produção.
A prosa da tarde aprofundou temas como a segurança e soberania alimentar, agrotóxicos, comunicação popular, conflitos socioambientais, agricultura urbana, construção do conhecimento agroecológico, educação do campo, mercados locais, políticas públicas e mercados institucionais, reforma agrária e luta pela terra e sementes e biodiversidade.
Avanços e retrocessos da agroecologia no estado
O momento de retrocesso de direitos e o avanço do conservadorismo veio à tona durante o debate. A flexibilização da legislação sobre agrotóxicos e propostas como a ração humana, defendida recentemente pela Prefeitura de São Paulo, foram motivos de preocupação dos participantes por atentar contra princípios básicos do direito à alimentação adequada.
“Construímos a afirmação do direito à comida de verdade, que respeita e valoriza a cultura, a diversidade, propõe alimentos in natura”, disse Vanessa Schottz, do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Segundo ela, ideias como a da ração humana trazem um olhar simplificado sobre o tema e não evidenciam as causas estruturais da fome, beneficiando apenas as empresas.
A alternativa agroecológica como sustentável, equitativa, justa e solidária, com a valorização do conhecimento tradicional e popular, foi colocada como o caminho possível para enfrentar os desafios atuais.
Um destes desafios é a construção de zonas livres de agrotóxicos, como destacou Nivia Regina, da direção estadual do MST. Assim seria possível evitar a contaminação de alimentos produzidos de forma agroecológica, mas esta proposta vai de encontro aos interesses de políticos e empresários.
“O agrotóxico é hoje uma ferramenta de manipulação do governo golpista com a bancada ruralista para se manter no poder. Estão querendo aumentar o veneno na nossa comida, a gente vai engolir essa?”, questionou ela, que também faz parte da campanha permanente contra os agrotóxicos. “É um problema que deve ser tratado como de saúde pública”.
Comunicação, Cultura e Luta
A comunicação popular também teve destaque em uma roda específica sobre o tema. O entendimento foi o de que a técnica deve estar à serviço de um projeto político posicionado.
“Todos os sujeitos têm voz e nosso papel enquanto comunicador é se somar a estas vozes e amplificá-las”, afirmou Larissa Cabral, do Coletivo Mídia Crioula, formado há pouco mais de um ano. “Nem aprendemos a andar e já queremos voar”, brincou a agrônoma, que utiliza a comunicação como instrumento de denúncia e para anunciar experiências inspiradoras.
A roda ao lado debateu os conflitos socioambientais no estado do Rio de Janeiro. Para Eduardo Barcelos, da Associação de Geógrafos do Brasil, é preciso articular uma assessoria jurídica popular para enfrentar as empresas, já que as populações sofrem com uma luta desigual, e avançar na organização.
“São importantes as redes de vigilância nos territórios, comunicar, denunciar, além de promover o intercâmbio entre as comunidades” opinou o geógrafo. Para ele, o IV EEARJ fortalece as lutas e a construção de um sujeito político coletivo e o GT de Comunicação é chave para ampliar estas lutas.
Ciranda e Educação Popular
As crianças não ficaram de fora do encontro, e os temas também estiveram presentes na ciranda que promoveu a integração de mais de 50 crias. Foram realizadas oficinas que traziam elementos do conhecimento tradicional.
A experiência com a bioconstrução em uma brincadeira feita com caixa de sapatos foi organizada pelo mestre caiçara Francisco Ticote, de Pouso de Cajaíba. “É preciso valorizar o conhecimento local, o que é nosso. As crianças se divertiram e tudo se aprende com brincadeira”, finalizou Ticote, sorrindo.